Trabalhos Discretos

Ao finalizar sua carta conhecida como Romanos, Paulo recomenda aos irmãos em Roma a irmã Febe, oriunda da igreja em Cencréia (Romanos 16:1). Esta irmã provavelmente seria a responsável por levar a carta que Paulo escrevera aos irmãos em Roma. Interessante pensar que grande serviço ela prestou não somente a Paulo, nem somente aos cristãos em Roma, mas também a nós e ao Senhor. A carta aos Romanos é plena de uma beleza e importância notável para nós hoje em dia. Cheia de conteúdo valiosíssimo, pontos doutrinários importantes e palavras de ânimo. Nós hoje temos essa carta, em parte, graças à irmã Febe que, com diligência e zelo, transportou-a até Roma. Mas imagino que nem passou pela cabeça dela quantos cristãos ela estaria ajudando com este simples e imperceptível trabalho.

Agora, pensemos não somente no que ela fez, mas em cada pessoa que de certa forma participou, mesmo que sem ter noção, da conservação desta carta: nos irmãos de Roma que a guardaram, nos escribas que a copiaram etc.

O que quero trazer com este exemplo é que nem sempre teremos noção do quanto nosso serviço ao Senhor pode ajudar os outros e pode ser usado para cumprir a vontade de Deus. E que nem todos os trabalhos se sobressaem da mesma forma, mas mesmo assim todos são igualmente valiosos. O trabalho de Paulo se sobressaiu muito mais do que o de Febe, mas se Febe não tivesse se esforçado em sua tarefa e, por ventura, tivesse perdido a carta, o trabalho de ambos teria sido improdutivo. Por exemplo, talvez o trabalho de um pregador ou pastor seja mais visto do que o de sua esposa, porém, se sua esposa não estivesse exercendo diligentemente seu trabalho, ele também não conseguiria exercer o seu.

O ponto é que cada trabalho que nós fazemos para o Senhor, devemos fazer bem feito, cientes “que, no Senhor, o vosso trabalho não é em vão” (1 Coríntios 15:58). Às vezes achamos um trabalho tão sem importância ou sem muito valor que nem damos bola para ele e o fazemos de qualquer forma. No Senhor, todo o trabalho é importante, independente da sua notabilidade e independente se nós o achamos valioso ou não.

Precisamos lembrar que a Bíblia está cheia de exemplos de “pequenos serviços” aparentemente infrutíferos, mas que fizeram diferença na história. A irmã de Moisés, sem saber da grandeza do que estava fazendo, simplesmente acompanhou o cesto em que Moisés estava pelo percurso do rio até chegar à filha do faraó, a quem perguntou “Queres que eu vá chamar uma das hebreias que sirva de ama e te crie a criança?” (Êxodo 2:7). Raabe, a prostituta, acolheu os espias israelitas o que lhe ajudou no princípio da conquista de Canaã. Ela não tinha noção da ajuda que estava prestando a Israel e nem que um dia seu nome estaria escrito no capítulo da fé (Hebreus 11:31). Jó morreu sem saber quantos milhares de pessoas a fé e perseverança dele ajudaram a passar pelo sofrimento.

Pequenos serviços hoje podem gerar grandes serviços no futuro. O “efeito borboleta”, comprovado cientificamente pela Teoria do Caos, diz que o bater de asas de uma borboleta na Ásia pode gerar uma corrente de ar suficiente ao ponto de formar um furacão na África, por exemplo. O simples serviço que Febe realizou há quase dois mil anos atrás trouxe consequências gigantescas para toda a era cristã.

Talvez não conseguiremos enxergar os frutos do nosso trabalho, mas sem dúvida eles existem (ou existirão). Talvez não viveremos para vê-los. Mas trabalhemos para o Senhor e confiemos nele. Além de Febe, Romanos 16 está cheio de outros exemplos de pessoas desconhecidas, mas que foram fundamentais para o serviço do Senhor. Eunice e Lóide, mãe e avó de Timóteo, respectivamente, citadas apenas em 2 Timóteo 1:5, fizeram um excelente trabalho, embora discreto, em educar Timóteo no Senhor. Vemos o fruto do trabalho delas na vida de Timóteo que serviu a várias igrejas. Portanto, façamos o nosso trabalho e o façamos bem feito.

-por Tomás Guidalli