Responsabilidade e Egoísmo

Vivemos em um mundo em que somos estimulados cada vez mais a sermos egoístas. Precisamos ser felizes, nossas vontades precisam ser realizadas, nossas metas precisam ser alcançadas e nós devemos ser valorizados pelas pessoas. O mundo nos incentiva a buscar tais coisas independentemente do meio que usaremos para alcançá-las. Uma das provas disso é o crescimento do número de divórcios nos tempos modernos. A mentalidade do mundo é “se meu cônjuge não me faz feliz e nem me valoriza, não devo continuar com ele” ou “se meu cônjuge me impede de alcançar minhas metas e não me ajuda a satisfazer minhas vontades, preciso me afastar dele”. Porém, tem uma história em Gênesis 16 que nos ensina que acima do nosso egoísmo está a nossa responsabilidade. Vejamos Gênesis 16:1-16.

O capítulo relata uma cadeia de pecados e problemas. Tudo começa com a inversão de papéis. Sarai toma a autoridade do casamento, e Abrão a cede. Ambos aguardavam há dez anos o filho prometido, e nada! Sarai, então, decide dar uma “mãozinha” ao Senhor e toma a iniciativa de entregar sua serva Agar a Abrão, uma vez que ela, Sarai, não lhe gerava um filho, por ser estéril. O problema dessa ideia é que Sarai era a esposa de Abrão e não Agar, logo Sarai deveria ser a mãe do filho da promessa. Deus deixara bem claro em Gênesis 2:24 que o seu propósito para o casamento é uma aliança entre um homem e uma mulher. Tudo o que vai além disso vai contra o propósito do Senhor. Feita a proposta, Abrão toma Agar, e ela concebe. Por consequência, ela passa a desprezar Sarai, a quem devia honra. Sarai, então, lança a culpa sobre seu esposo (5), e Abrão, ao invés de enfim tomar a autoridade e resolver a situação, continua preferindo ficar de fora e dá Agar a Sarai para fazer o que quiser com ela. E diz no versículo 6 que “Sarai humilhou-a, e ela fugiu de sua presença”.

Foquemos, agora, em Gênesis 16:7-9: “E o Anjo do Senhor a achou junto a uma fonte de água no deserto, junto à fonte no caminho de Sur. E disse: Agar, serva de Sarai, de onde vens e para onde vais? E ela disse: Venho fugida da face de Sarai, minha senhora. Então, lhe disse o Anjo do Senhor: Torna-te para tua senhora e humilha-te debaixo de suas mãos.” Descobrimos no versículo 13 que o Anjo do Senhor é o próprio Senhor. Interessante ver que o Senhor chama “Agar, serva de Sarai”. Ora, a serva de Sarai não deveria estar em nenhum outro lugar senão na tenda de Sarai servindo a Sarai. E essa é a ordem que o Senhor dá: retornar e submeter-se à sua senhora. Não era uma ordem fácil. Seria difícil e humilhante voltar à sua senhora após a ter desprezado e fugido.

Agora, imagine se Agar tivesse tomado conselho com pessoas deste mundo atual. Imagino conselhos do tipo “se não te valorizam lá, você tem que sair mesmo” ou “se você não está feliz e não se sente satisfeita e nem realizada, você fez bem em fugir”. Os conselhos do mundo focam no egoísmo e ignoram a responsabilidade ao passo que as ordens do Senhor focam na responsabilidade e ignoram o egoísmo. A serva de Sarai tinha responsabilidades com ela e ter seu ego ferido não era motivo de negligenciá-las.

O Novo Testamento nos ensina bastante sobre responsabilidade acima de egoísmo quando se trata dos escravos. Confira o que diz 1 Pedro 2:18-20, Colossenses 3:22-24 e Efésios 6:5-7. Pedro ordena aos servos a serem submissos e a manterem suas responsabilidades mesmo diante de senhores maus, e Paulo diz que o serviço prestado pelos servos é, antes de tudo, a Cristo. Precisamos nos atentar para as responsabilidades dadas a nós por Deus para com a nossa família e para com o serviço a ele. Ao cumprir com nossas responsabilidades estamos servindo, antes de tudo, a Cristo. Nosso egoísmo não deve ser motivo para rompermos casamentos e nem para negligenciarmos o trabalho. Não obstante os desafios, precisamos nos empenhar para cumprir com nossas responsabilidades.

-por Tomás Guidalli