A relação especial do homem com Deus deve servir como base que orienta o comportamento humano em todos os aspectos. O entendimento desta relação – a reverência e amor para com Deus – é o fundamento e principal motivo da obediência por parte das criaturas. Mas as implicações deste relacionamento não param aqui. Nas instruções que Deus deu aos israelitas em Levítico 25, observamos como este relacionamento com o Criador governa a conduta dos homens também em relação à criação. Vamos notar como Deus explicou algumas exigências que fez aos hebreus.
(1) Não explore o próximo, pois todos pertencem a Deus. Ele disse: “Não oprimais ao vosso próximo; cada um, porém, tema a teu Deus; porque eu sou o Senhor, vosso Deus” (Levítico 25:17). É exatamente o princípio aplicado no Novo Testamento quando Paulo ensina aos presbíteros sobre os cuidados para com a igreja que pertence a Deus (Atos 20:28). Ele diz que todos devem agir com cautela na edificação da igreja, que é o santuário de Deus (1 Coríntios 3:16-17). Tiago usa o mesmo conceito para nos instruir sobre o domínio da língua: “Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim” (Tiago 3:9-10). Em termos mais abrangentes, João vincula o amor ao próximo e o amor a Deus: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso. . . . Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão” (1 João 4:20-21). Devemos respeitar ao próximo, pois Deus o criou!
(2) Não explore a terra, pois ela pertence a Deus (Levítico 25:23-24). Neste capítulo, Deus ordenou um sábado a cada sete anos para deixar a terra descansar, e um jubileu a cada 50 anos que daria dois anos seguidos de descanso para a terra (Levítico 25:1-12). Alguns comentam aqui sobre o benefício destas práticas em termos da produtividade da terra. Da mesma forma que outras leis do Antigo Testamento protegiam a saúde e mantinham a higiene do povo, não deve nos surpreender que as leis sobre agricultura também tenham benefícios nesta vida. Mas neste capítulo, dois outros motivos são destacados. Primeiro, Deus queria lembrar o povo que a terra pode ser usada pelo homem, mas pertence a Deus (Levítico 25:23). Segundo, ele queria que o povo confiasse nele, mesmo quando fosse obrigado a passar um ou dois anos sem plantar nada (Levítico 25:20-22). Para um povo que já achou difícil confiar em Deus ao ponto de não colher o maná no sétimo dia, imagine a dificuldade de passar um ou dois anos sem produção agrícola!
Não temos o direito, hoje, de aplicar como lei as coisas do Antigo Testamento, pois vivemos sujeitos à Nova Aliança de Jesus. Mas o nosso respeito para com o Criador não deve nos levar a respeitar também a criação? Não cheguemos ao extremo de idolatrar ou exaltar a homens ou a natureza, mas devemos evitar a exploração desenfreada da natureza e tratar todos os homens com o amor verdadeiro.
O princípio do amor é a base de todas as “regras” reveladas por Deus ao longo do tempo (veja Mateus 22:36-40) porque é uma das palavras que melhor descreve o próprio Criador: “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1 João 4:8). Se eu amaldiçoar o meu vizinho ou poluir desnecessariamente a água que ele bebe, eu não estaria agindo pelo amor.
Mas este amor ao próximo deve ser motivo dos seguidores de Cristo se preocuparem com algo muito mais importante do que a preservação do meio ambiente. As coisas deste mundo são todas passageiras (2 Pedro 3:10), mas cada um de nós possui um espírito eterno que passará a eternidade, ou na gloriosa presença de Deus, ou banido da face dele. Por amor ao próximo, devemos anunciar a boa nova do evangelho de Jesus, “a fim de apresentemos todo homem perfeito em Cristo” (Colossenses 1:28-29).
–por Dennis Allan